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28/03/2024

A busca e o arquétipo do Herói

 
"O herói egóico sai em busca do tesouro e parte para a conquista do mundo.
O herói existencial sai em busca da verdade e parte para a conquista do medo."
Frances Vaughan - psicóloga, escritora, mentora espiritual e directora do Instituto Fetzer
 
Em cima, "The good shepherd" de Pieter Brueghel (1564 - 1638)
 
A propósito do herói egóico, IsanaMada escreve:
 
"O herói egóico pode ser caracterizado como alguém com uma visão míope, estreita e neblada do mundo, tipificada por um interno desejo de fazer com que as coisas aconteçam de uma determinada maneira que, evidentemente, deve corresponder à sua auto-imagem e à fantasia que elabora a respeito de como a sua vida deveria ser. Este herói egóico vive numa terra de ninguém, onde os seus sentimentos acontecem repetidamente mais ou menos da seguinte maneira:
- Não é assim que isto deveria ocorrer;
- Não é assim que pensei que seria;
- Eu gostaria que fosse deste modo;
- Se pelo menos pudesse ter sido de outra maneira;
 
O herói egóico não está interessado na verdade e irá subverte-la ao máximo sempre que não a considerar util aos seus objectivos particulares - apesar de , da boca para fora, proclamar que a sua motivação é o desejo da verdade, protestando alto e bom som quando alguém não se comporta com total veracidade em relação a si mesmo. A sua busca do tesouro e a sua estratégia para a conquista do munodo não incluem o confronto directo com a realidade da sua própria existência. Na realidade, para pôr a sua programação em andamento, ele evita inclusivé as grandes questões.
(...) O herói existencial pode ser caracterizado como pessoa que tem uma visão mais clara e ampliada do mundo, tipificada por um intenso desejo de encarar a realidade, de atingir um grau relativo de compreensão da vida e de si mesmo;
(...) O herói existencial está pronto para enfrentar o choque da verdade da sua existência;
(...) Na evolução da consciência, a angustia existencial (pavor ou ansiedade) é gerada pelo contacto com o dualismo primário ou com a consciência desse dualismo - o si mesmo versus o outro - e pelo contacto com o dualismo secundário - ser versus não ser.
(...) por isso o buscador sentirá medo, pavor ou angustia existencial quando as ilusões auto-protectoras do ego aparecerem como quiméricas cortinas de fumaça que serviram até ali para ocultar a realidade."
 
A busca do herói ou a insatisfação do herói egóico, levam-no a um exercício de conta-gotas. Por um lado a defesa inconsciente - negação, indiferença, prepotência, desprezo, falso poder, o defende do mundo e do outro, por outro, a vacuidade do si mesmo real - self, gera-lhe ansiedade e pulsão para a conquista de um prazer mais pleno e duradouro.
Parte então, pouco a pouco, experimentando o mundo, tentando pintá-lo de acordo com os olhos da carne, enquanto ele se rasga, abrindo brechas na sua ilosória necessidade de defesa, tornando-o frágil, humilde, obrigando-o a um outro olhar interno de ver o mesmo mundo!
Hari

15/09/2021

ID, EGO e SUPEREGO




E agora, podemos saber quem somos, o que fazemos aqui e para onde queremos ir?
Auto-conhecimento, uma escola de investimento que ditará o seu futuro!
A aprender!

01/06/2013

José Raimundo Gomes - Sombra e Humildade



Todos os que me acompanharam em sessões individuais ou aulas de grupo, sabem que sou adepta do mais simples como ferramenta eficiente da complexidade.
Durante muito tempo pediram-me para partilhar os ensinamentos que adquiri e vivenciei, os milhares de livros que possuo, as notas que escrevi e os escritos de formações que fiz ao longo de mais de 30 anos.
"Escreve um livro, vídeos motivacionais..." O tanto que faço, que me faz estar constantemente apaixonada por este sal da vida, a minha estória pessoal de destinos, sombras e luzes de mil cores, não facilitaram que o fizesse até agora.
Depois, sinto que cada vez há mais meios e gente a cumprir bem o seu destino como educadores, instrutores, motivadores, terapeutas, facilitadores - um imenso despertar de almas que bem na carne e no verbo desempenham a ação de bons jardineiros, fecundadores das sementes de uma terra mais humanizada e consciente, seres humanos que se conhecem mais e reconhecem o meio que os acolhe como um Todo integrado.
Deixo por aqui também algumas sementes, contributos onde reconheço a obra sábia de todo o multiversos que se recria externamente, através do seu centro nuclear - Fonte Eterna de toda a imanação.
Servirá a quem tenha sede, fome do Amor perdido, essência que se quer encontro, dádiva e partilha com os muitos amanhãs desta amada Mãe Gaia!
 
Recomendo toda a matéria que conheço do psicólogo José Raimundo Gomes.

27/10/2012

Leonardo Boff fala de Jung e Espiritualidade, video 1



Excelente visão de um dos maiores mestres da teologia cristã e psicólogo da actualidade que nos fala de outro grande homem da psicologia - Carl Gustav Jung.

Aulas de excelência que nos ajudam a descobrir a nossa identidade e valores!

Hari

26/08/2012

TRANSMUTAÇÃO

Ilustração do livro de Johann Daniel Mylius, publicado em 1622, "Philosophia Reformata"
 
O que realmente importa para a evolução humana e para a informação que damos ao cosmo, é o melhor que fazemos, transcendendo para além do bem e do mal quotidianos.
A evolução das espécies - cada dia que passa as novas descobertas da neurologia comprovam-no, ocorre no momento quântico da descoberta possivel da superação, de um outro horizonte até então desconhecido, transmutador do passado, abrindo novas estradas de informação à sistémica de todos os organismos vivos.
Errar é inerente ao processo de aprendizagem, assim como experimentar e perceber o oposto deste lado sombrio. É deste modo que obtemos o ponto de transmutação, a porta para uma outra compreensão do multiverso que nos integra.
Assim há que em cada dia fazer algo que redescubra o nosso potencial, esculpir a pedra bruta que contêm a singularidade e beleza da expressão de vida de cada ser humano.
Dar o nosso melhor, para lá do bem e do mal, é persistir e apostar na biblioteca genética do universo e em sermos co-criadores de novas possibilidades.
Harimahal
 
"...a evolução é basicamente aberta e indeterminada. Não existe meta ou finalidade nela e, no entanto, há um padrão reconhecível de desenvolvimento. Os detalhes desse padrão são imprevisíveis por causa da autonomia que os sistemas vivos possuem em sua evolução, assim como em outros aspectos de sua organização. Na visão sistémica, o processo de evolução não é dominado pelo "acaso cego", mas representa um desdobramento de ordem e complexidade que pode ser visto como uma espécie de processo de aprendizagem, envolvendo autonomia e liberdade de escolha."
in "Ponto de Mutação" de Fritjof Capra, escritor, professor, cientista e investigador em física teórica.

22/08/2012

Mihaly Csikszentmihalyi: Êxtase e a arte de saber fluir



O livro "Fluir", como o vídeo em cima, está editado e traduzido para português.

Vale a reflexão até pela presença do pensamento analítico intemporal de Carl Jung.
Hari

22/12/2011

Alejandro Jodorowsky - A finalidade da Vida



Um professor extraordinário, um mestre de inspiração e aprendizagem nos caminhos do auto-conhecimento!
Hari

07/02/2010

Os grandes prazeres humanos: comida, sexo, e dar


Os grandes prazeres humanos: comida, sexo, e dar

por Nicholas Kristof,  21 de Janeiro de 2010, Jornal "I"
http://www.ionline.pt/  

A generosidade é gratificante - e daí podemos deduzir que estamos programados para ser altruístas. Vários estudos confirmam que partilhar coisas com os outros traz felicidade.

Richard é branco, tem 36 anos e é um ambicioso comerciante da Florida. É saudável e um belo homem que vive sozinho numa casa com piscina e tem um historial de lindas mulheres. O trabalho dele é cheio de stresse, mas Richard passou o Natal no Taiti. Livre e despreocupado, tem tempo para se entregar a paixões como ler (neste momento está a acabar um livro intitulado "Half the Sky"), correr a maratona e escrever poesia. Nos últimos dias escreveu uma elegia acerca do tremor de terra no Haiti.

Lorna é negra, tem 64 anos e vive em Boston. Tem excesso de peso e não é bonita, mesmo depois de uma recente operação plástica ao nariz. Lorna faz diálise regularmente, o que não a impede de ter uma vida social activa nem de tomar conta dos netos. Auxiliar educativa na reforma, entende-se muito bem com o marido, de 67 anos, e é muito respeitada na igreja que frequenta, onde dirige a comissão musical e a campanha semestral de dádiva de sangue. Lorna acredita na dízima (dá 10% dos seus rendimentos a instituições de caridade ou à igreja) e nos últimos dias organizou uma acção da igreja para angariar 10 mil dólares para as vítimas do tremor de terra do Haiti.

Adaptei os exemplos acima, escolhidos entre os que Jonathan Haidt, professor de Psicologia da Universidade da Virgínia, desenvolve no seu fascinante "The Happiness Hypothesis" ["A Conquista da Felicidade", Sinais de Fogo]. O que ele pretende mostrar é que, embora a maioria de nós escolhesse trocar de lugar com Richard, Lorna é provavelmente mais feliz.

Os homens não são mais felizes que as mulheres e as pessoas que vivem em climas soalheiros não são mais felizes que as que vivem em climas mais frios. Os dados relativos à saúde são complexos, mas mesmo os problemas crónicos (como precisar de hemodiálise) podem ter um efeito surpreendentemente diminuto na felicidade a longo prazo, porque nos adaptamos a eles. As pessoas bonitas não são mais felizes que as feias, embora a cirurgia cosmética pareça fazer com que os pacientes se sintam mais animados. Os brancos são mais felizes que os negros, mas só muito ligeiramente. E os jovens são um pouco menos felizes que os mais velhos, ou pelo menos que as pessoas até aos 65 anos.

A Lorna tem algumas vantagens sobre o Richard. Está sujeita a menos stresse e é respeitada pelos seus pares, coisa que a faz sentir-se bem. A felicidade está associada ao voluntariado e ao acto de dar sangue, e as pessoas com fé tendem a ser mais felizes que as que a não a têm. Um casamento sólido está associado à felicidade, tal como a participação em redes sociais. E um estudo verificou que quem está centrado na conquista de riqueza ou na promoção na carreira é muitas vezes menos feliz que quem se preocupa com as boas obras, a religião ou a espiritualidade, os amigos e a família.

"Os seres humanos são, em alguns aspectos, como as abelhas", diz Haidt. "A nossa evolução encaminhou-nos para uma vida em grupos sociais intensos, e damo-nos menos bem quando ficamos libertos das colmeias."

É evidente que a felicidade é um conceito complexo e difícil de medir; John Stuart Mill teve uma saída muito boa quando disse: "É melhor ser um homem insatisfeito que um porco satisfeito; é melhor ser Sócrates descontente que um tonto contente."

No entanto, em qualquer caso, a nobreza pode conduzir à felicidade. Haidt faz notar que uma das coisas que podem fazer uma diferença duradoura no nosso contentamento pessoal é trabalhar com outras pessoas numa causa maior que nós próprios.

Vejo isto constantemente. Entrevisto pessoas com vidas ocupadas, que se forçaram a si próprias a abraçar uma boa causa porque (ai, ai!) era uma questão de dever. Depois descobriram que esse "sacrifício" se tornou uma enorme fonte de auto-realização e de satisfação.

Assim, numa altura de tão grandes necessidades, a começar no Haiti e a acabar nas nossas próprias cidades, eis uma oportunidade de simbiose: tantas pessoas aflitas por aí e tantos benefícios para nós se as ajudarmos. Não esqueçamos que, embora as instituições de caridade tenham um palmarés heterogéneo no que toca a ajudar os outros, têm também um historial quase perfeito no que toca a ajudarmo-nos a nós próprios. Ajudar os outros pode ser um prazer tão fundamental como o sexo ou como comer.

28/08/2009

Memória corporal

"A nossa identidade é basicamente corporal"
Alexander Lowen
A nossa memória é toda corporal... sem corpo, o Universo guarda-nos a memória naqueles que serão o futuro.
Hari

20/05/2009

Cérebro de homens e mulheres é diferente até no nível celular, segundo cientistas espanhóis



"Um quarteto de cientistas espanhóis fez a primeira análise comparativa do cérebro de homens e mulheres com a ajuda do microscópio e concluiu: há diferenças significativas, até em nível celular.
O estudo está na edição desta semana da "PNAS", a revista científica da Academia Nacional de Ciências dos EUA, e mostra um novo caminho para estudar as diferenças de funcionamento entre o cérebro masculino e o feminino.
Há tempos está claro para os cientistas que homens e mulheres têm níveis diferentes de sucesso com relação a certas habilidades. Homens, por exemplo, parecem ser melhores em processamento de informações espaciais, ou seja, ligadas à geometria dos objetos. Já as mulheres ganham de goleada quando o assunto é habilidade de verbalização e socialização.
Como todas essas coisas são feitas pelo cérebro, os neurocientistas sempre esperaram encontrar diferenças entre o órgão em sua versão masculina e em sua versão feminina.
Com efeito, eles já haviam encontrado algumas diferenças, como o tamanho de certas estruturas, visíveis com técnicas de tomografia. Mas observar o cérebro em nível celular nunca havia sido feito, pois obter amostras para colocar sob um microscópio é dificílimo -- são tecidos que se degradam rapidamente após a morte, inviabilizando seu estudo.
Para conseguir os resultados inéditos, a equipe de Lidia Alonso-Naclares, do Instituto Cajal, em Madri, contou com uma ajuda de pacientes epilépticos, que iam passar de todo modo por uma biópsia cerebral (extração de amostra para examinação clínica).
Quatro homens e quatro mulheres participaram do estudo, que envolveu a análise de tecido do neocórtex temporal -- uma região localizada nas camadas superiores do cérebro, abaixo das laterais do crânio.
A constatação foi a de que os homens têm, em geral, mais sinapses -- as conexões que existem entre as células cerebrais -- do que as mulheres nessa região cerebral.
Dúvidas e novas questões
Os pesquisadores admitem que os resultados podem não ser os mesmos em cérebros de não-epilépticos, mas acreditam não haver razão para isso.
Eles também não conseguem dizer, no momento, qual é o impacto da diferença no número de sinapses para o funcionamento daquela região do cérebro. "A porção anterior do neocórtex temporal está envolvida tanto em processos emocionais como em sociais, inclusive na teoria da mente, entre outras habilidades", disse Alonso-Naclares ao G1. "Entretanto, não sabemos qual é o significado funcional de uma menor densidade de sinapses nessa região particular do cérebro das mulheres."
Ou seja, já ficou claro que há diferença na quantidade de sinapses entre homens e mulheres, mas ninguém sabe para que serviria ter mais ou menos sinapses naquela região cerebral.
E os cientistas quase imploram para que ninguém extrapole as conclusões tiradas da análise do neocórtex temporal para todo o cérebro. "Nós aconselhamos o leitor a exercer cautela ao extrapolar os presentes dados para o cérebro inteiro", escreveram os cientistas. "Mais estudos serão necessários para examinar se a densidade sináptica é similar ou diferente em outras áreas corticais."

06/06/2008

JEAN YVES LELOUP - A PROPÓSITO DO LIVRO "DIÁLOGO COM OS ANJOS"



Não há outro Mestre além da Vida, da Vida com letra Grande, mas essa Vida, Una, Inefável e Incriada pode, em consequência da sua bondade e em nosso nome, manifestar-se de formas que sejam para nós acessíveis: mestres exteriores e visíveis de que nos falam todas as grandes tradições espirituais da humanidade, e também mestres invisíveis, anjos, espíritos, arquétipos que nos iluminam e nos guiam do nosso interior - intermediários discretos e sagrados do «Claro Silêncio».


Tanto os mestres visíveis, como os invisíveis têm por função despertar em nós o «Mestre Interior», essa qualidade de Escuta e de Atenção que nos mantém incessantemente em contacto e no movimento em direcção ao «Único Mestre».

O objectivo do nosso retiro - em silêncio - será o de despertar ou desenvolver em nós essa qualidade de Escuta e de Atenção, estudando o que nos dizem as grandes tradições espirituais e a psicologia das profundezas, a respeito do Mestre Interior, o que incluirá também a meditação de algumas passagens do «Diálogo com os Anjos», que possam alimentar o nosso diálogo e a nossa intimidade com o Ser que nos inspira e nos conduz.

Jean-Yves Leloup

21/02/2006

A. MONTAGU E O O SIGNIFICADO DO TOQUE

"Será que as pessoas se tocam o suficiente? Sem dúvida, não!
Entre nós, existe uma carência muito profunda daquilo que mais desejamos: tocar, abraçar, acariciar... E isso vem desde muito cedo. Estudos actuais mostram que, entre as causas menos conhecidas para o choro dos bebés, está a necessidade de serem acariciados. Muitas mães rejeitam um contacto mais prolongado com os filhos, com base na falsa suposição de que, se o fizerem, eles se tornarão profundamente dependentes delas. Não são poucos os pais que evitam beijar e abraçar filhos homens, porque temem que assim se tornem homossexuais. Mesmo dois grandes amigos limitam-se a expressar afecto dando tapinhas nas costas um do outro, enquanto amigas trocam beijinhos impessoais quando se encontram. A pele, o maior órgão do corpo, até há muito que foi negligenciada.
Ashley Montagu, um especialista americano em fisiologia e anatomia humana, dedicou-se, por várias décadas, ao estudo de como a experiência táctil, ou sua ausência, afectaria o desenvolvimento do comportamento humano.
A linguagem dos sentidos, na qual podemos ser todos socializados, é capaz de ampliar nossa valorização do Outro e do mundo em que vivemos, e de aprofundar a nossa compreensão em relação a eles. "Tocar", é o título do seu excelente livro e em que se baseia este artigo, é a principal dessas linguagens. Afinal, como ele mesmo diz, nosso corpo é o maior playground do universo, com mais de 600 mil pontos sensíveis na pele. Como sistema sensorial, a pele é, em grande medida, o sistema de órgãos mais importante do corpo. O ser humano pode passar a vida toda cego, surdo e completamente desprovido dos sentidos do olfacto e do paladar, mas não poderá sobreviver de modo algum sem as funções desempenhadas pela pele. Montagu acredita que a capacidade de um ocidental se relacionar com seus semelhantes está muito atrasada em comparação com sua aptidão para se relacionar com bens de consumo e com as pseudo necessidades que o mantêm em escravidão. A dimensão humana encontra-se constrangida e refreada. Tornamo-nos prisioneiros de um universo de palavras impessoais, sem toque, sem sabor, sem gosto. A tendência natural é as palavras ocuparem o lugar da experiência. Elas passam a ser declarações ao invés de demonstrações de envolvimento; a pessoa consegue proferir com palavras aquilo que não realiza num relacionamento sensorial com outra pessoa. Mas estamos começando, aos poucos, a redescobrir os nossos negligenciados sentidos.
O sexo tem sido considerado a mais completa forma de toque. Em seu sentido mais profundo, o tacto é considerado a verdadeira linguagem do sexo. É, principalmente, através desta intensa estimulação da pele, que o homem quanto a mulher chegam ao orgasmo, que será tanto melhor quanto mais amplo for o contacto pessoal e táctil. Mas, até que ponto existe relação entre as primeiras experiências tácteis de uma pessoa e o desenvolvimento de sua sexualidade? O autor acredita que, da mesma forma como ela aprende a se identificar com seu papel sexual, também aprende a se comportar de acordo com o que foi condicionado por meio da pele. Assim, o sexo pode ter uma variedade enorme de significados: uma troca de amor, um meio de magoar ou explorar os outros, uma modalidade de defesa, um trunfo para barganha, uma afirmação ou rejeição da masculinidade ou feminilidade, e assim por diante, para não mencionar as manifestações patológicas que o sexo pode ter, em maior ou menor grau de intensidade, são todas elas influenciadas pelas primeiras experiências tácteis. Montagu acredita que a estimulação táctil é uma necessidade primária e universal. Ela deve ser satisfeita para que se desenvolva um ser humano saudável, capaz de amar, trabalhar, brincar e pensar de modo mais crítico e livre de preconceitos.
José Ângelo Gaiarsa, que escreve a apresentação da Edição Brasileira do livro de Montagu, reforça as ideias do autor, afirmando que "para todos os seres humanos é fundamental o contacto, o toque, a proximidade e a carícia. Falta-nos proximidade, contacto; não trocamos carícia nem gostamos que toquem em nós. Quanto mais civilizados, mais assépticos, mais distantes e mais frios. Apenas palavras. Pouca mímica. Nenhum contacto. Por isso foi tão fácil inventar robôs"
Texto extraído de reportagem baseada em material cedido por Regina Navarro, psicanalista e sexóloga e publicada no Jornal "Diário da Região" de S.J. do Rio Preto (SP) em 26/12/1999